Ao ler
“O vingador mascarado dos contos de fada” da escritora francesa Christine
Beigel conheci a história de uma menina que planeja como se vingar do Lobo Mau,
da Bruxa da Branca de Neve e outros vilões, invertendo os papeis tradicionais.
Papai
Noel é mais uma figura fictícia que está no imaginário infantil e dos
crescidinhos como alguém que, ao distribuir presentes e atenção, proporciona
felicidades natalinas a todos, uma espécie de gênio da lâmpada que concede
desejos e os realiza, mesmo não tendo sido criado para o universo dos contos de
fada. Pensei sobre a nossa realidade, especificamente a do Brasil, tão difícil
que, ao exemplo do livro que citei, seria provável que o papel tradicional do
velho Noel sofresse modificações e passasse ele também a pedir presentes.
O bom
velhinho está cada vez mais velhinho e no nosso país não tem a certeza de que
irá se aposentar. No entanto, embora aprecie distribuir presentes, está cansado
e merece uma aposentadoria digna. Se adoecer, Papai Noel terá de enfrentar as precárias
condições da saúde pública, filas, talvez internação “provisória” em algum
corredor de hospital. O seguro do seu trenó e as refeições para suas renas e a
dele estão cada vez mais caros, além disso, a violência o impede de ter
tranquilidade para exercer seu ofício e viver. Seu salário foi parcelado; seu
voto, incinerado de forma invisível na última eleição; e quando saiu às ruas
para se manifestar não foi considerado. Massa de manobra, ele está cansado de
ser brasileiro, embora acredite que “um filho seu não foge à luta”.
O que
Papai Noel pediria de presente? O “Fora Canalhas!” - do hashtag à prática - aos
que estão vendendo o país e rapinando os direitos dos cidadãos e trabalhadores.
Quem sabe os mandar à Lapônia catar coquinhos ou à cadeia mais próxima a
cumprir pena sem pena alguma deles. Justiça é tudo o que desejamos, Noel e
todos nós.
Papai
Noel é cada pai e mãe de família no Brasil que terá de encontrar uma fórmula
mágica para comprar o presente para seu filho; mas fará de tudo pelo sorriso dele
e de toda a família no Natal e em todos os tempos. Apesar de tudo...
Ana
Cecília Romeu,
publicitária
e escritora – Via3 Publicações
Fonte: texto e charge - Correio do
Povo, 19/12/17